Como as experiências do bebê estão relacionadas à fé no adulto

“A fé move montanhas”. Essa frase já reverbera no inconsciente de muitos. Mas o que é fé, afinal?
Quando ouvimos essa palavra, ela vem carregada de conceitos religiosos.
“A fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem”. – Hebreus 11:1
Independentemente de religião, fé é uma palavra que tem sua origem no antigo idioma grego, onde “pistia” indicava a noção de acreditar em algo. Logo, quero focar aqui a fé como essa habilidade do ser humano de crer em algo invisível, intangível.
Essa habilidade de crer em algo intangível é uma característica da abstração do ser humano que, como muitos estudos mostram, podem curar, ser o combustível de movimento da vida e tem uma relação íntima com a felicidade. Um estudo feito na Europa mostrou que pessoas espiritualizadas se dizem mais satisfeitas do que aquelas que não se consideram espiritualizadas.
A habilidade de crer em algo invisível ativa também outras emoções essenciais. “O geneticista americano Dean Hamer causou rebuliço no meio científico em 2004 ao anunciar a descoberta dos genes da fé – ou, como ele preferiu chamar, o gene de Deus. Batizado de VMAT2, trata-se de um conjunto de genes que ativam substâncias químicas que dão significado às nossas experiências. Eles atuam no cérebro regulando a ação dos neurotransmissores dopamina, ligada ao humor, e serotonina, relacionada ao prazer. ” (A ciência da fé, Revista Super Interessante)
Quando falamos de fé, a primeira mais comum é pensarmos nos adultos. Se observarmos a criança, ela tem seu próprio “mundo invisível”.  Ela brinca com seu brinquedo, constrói sua casa com seus bonecos, vivenciando intensamente o seu universo mágico como sua realidade.
Essa “realidade da criança” é totalmente diferente do adulto. Podemos associar as percepções das crianças com as frequências cerebrais em diferentes idades. A partir dos 12 anos de idade a criança está na frequência beta, a qual estamos acordados conscientes no dia a dia. Até os 2 anos, a frequência predominante é delta, sendo essa atingida quando estamos em sono profundo. Dos 2 aos 7, predomina a frequência theta, correspondente a frequência dos nossos sonhos, ou meditação profunda. Dos 7 aos 12, predomina alfa, a que corresponde ao nosso estado meditativo/relaxamento. (Lipton, B.H.)
Quero dar uma atenção nesse texto ao período até os 2 anos de idade. Nessa fase, ela é totalmente dependente e vive um intenso aprendizado associado às necessidades básicas do ser humano, como se alimentar, ser acolhido, limpo. Ela não percebe a existência do Outro. É um momento de diferenciação, onde a mãe e ele são um, mas ele ainda não percebe que existe ele e a mãe, é como se eles fossem um, sendo a mãe uma extensão dele.
Nessa fase, o próprio mundo mágico, místico, está manifestado. Para a Psicologia Simbólica Junguiana, isso se expressa pela presença do Arquétipo matriarcal que coordena o  mundo cinestésico, pré-verbal das relações primárias. (Byington, C.)
É um momento de expressão irracional, marcada pela vivência das emoções advindas das suas necessidades biológicas e das sensações do meio, que, para a criança, são sensações dela também. Dor de barriga, fome, frio, calor geram sensações biológicas de conforto ou desconforto e vão gerar suas memórias emocionais mais profundas marcadas no sistema límbico, afinal seu cérebro está em delta e ele percebe sensações e emoções.
A vivência dessa fase vai marcar a sua experiência esotérica, emocional, mágica, mítica pelo resto da vida. Se as suas necessidades básicas são atendidas, a sua experiência emocional profunda é de que algo invisível, e que também é ele mesmo, pode prover suas necessidades.
Logo, podemos pensar que a relação do bebê com a mãe e o prover de suas necessidades primárias está intimamente relacionado à sua capacidade, quando adulto, de acreditar que é capaz de se prover e também de crer em algo invisível, ou seja, de ter fé.
A fé, como a autoconfiança, a habilidade de ser feliz são características individuais, sim, mas podem ser ensinadas e, por incrível que pareça, também reside no atendimento das necessidades primárias do ser humano.
Referências:
LIPTON, B. H. Biologia da Crença. Butterfly editora. São Paulo, 2017
BYINGTON, C. A. A Viagem do Ser em busca da Eternidade e do Infinito. São Paulo, 2013.
Revista Super Interessante online: A Ciência da fé.

Bia Rossi

Pesquisadora, terapeura Bodytalk

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