Quando a mulher tem medo de brilhar…

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Você já quis muito algo, se trabalhou internamente, e na hora de fazer acontecer, ficou com medo, insegura e recuou?

Passamos a vida lutando por realização, sucesso, fazemos curso, colocamos nossa energia em prol de conquistar o que nos preenche ou nos alimenta, vamos fundo em nós mesmas, reconhecendo, buscando a força interna. E tem momentos na vida que a força realmente chega, vem à tona, o caminho brota na consciência e é hora que sair de dentro e colocar para o mundo. Fazer virar ação prática.

Nesse momento, algo acontece que não colocamos nos planos que nesse caminho teremos que lidar com o desconhecido que nasce na hora da prática. Quando as ideias saem da nossa cabeça e são vistas pelos outros, pelas pessoas que amamos, quando elas saem da nossa boca e percebemos o que tem que melhorar, precisamos lidar com uma parte nossa ainda desconhecida e nesse momento, ao invés de superar e seguir, achamos que o caminho não era aquele e mudamos.

No conto Vasalisa de, Mulheres que Correm com os Lobos, a menina Vasalisa sai pela floresta escura para encontrar o fogo que reacenderia a lareira da casa. Ela se vê sozinha no caminho e a única maneira de seguir em frente é aprender a ser guiada pela pequena boneca que recebeu de sua mãe, em seu leito de morte. Depois de muito andar, chega à casa da bruxa Baba Yaga, guardiã do fogo, a megera que determina uma série de desafios a serem cumpridos, em troca de mantê-la viva.

Com a ajuda da boneca, Vasalisa cumpre todos eles e recebe da bruxa uma caveira de olhos incandescentes numa vara, é o fogo que a menina buscava.

Vasalisa parte para casa e tem medo da luz da caveira e ameaça jogá-la fora. A caveira disse para ela se acalmar e seguir. Ao chegar em casa, encontra a madrasta e suas filhas que a mandaram para a floresta com intenção de que fosse morta pela bruxa. Nesse momento, a caveira as transforma em cinzas.

Esse conto trata do resgate da intuição como iniciação. A passagem da caveira acontece no final.  Para chegar até ela, Vasalisa vai de encontro aos lugares mais sombrios, supera esses medos e cria uma relação com algo mágico que guia seu caminho até encontrar o fogo, aquilo que ela foi buscar. No momento de trazê-lo para cumprir o seu propósito, o medo surge.

A caveira, ao mesmo tempo simboliza a intuição e o tesouro encontrado. Sua luz permite que aquilo que estava oculto seja visto e, nesse novo a ser desvelado, se encontram milagres de profundas belezas, mas também informações dolorosas e quase insuportáveis, sobre si e sobre os outros.

É quando reconhecemos as intenções maldosas dos outros, as nossas fragilidades internas e nesse momento, o ego talvez ache mais fácil e seguro livrar-se dessa luz. “É mais fácil jogar a luz fora e dormir.” (Clarissa P. Estés)

Mas a caveira diz para seguir. É preciso ter coragem para preciso fazer algo a respeito do que foi visto. Somente uma parte da tarefa foi cumprida, encontrar o fogo. Deixá-lo cumprir o seu papel é o início de uma nova etapa de coragem onde precisamos queimar partes que precisam morrer, dentro de nós e nas nossas relações.

Aquilo que nos oprime e que abafa o fogo não cabe mais. As relações que não honram nosso ser como pessoas preciosas, em crescimento, companheiros que destroem nossos vínculos com nossa essência, querendo manipular, impor sua vontade, menosprezando nossa existência, precisam ser evitados.

“A escolha criteriosa de amigos e companheiros, para não falar de mestres, é de importância crítica para continuar consciente, para continuar intuitiva, para manter o controle sobra a luz incandescente que vê e sabe.”(Clarissa P. Estés)

O ego vai ficar com medo, se sentir inseguro, toda mudança gera um estado de alerta no nosso sistema. O medo vai surgir, porque ele é ativado na presença do desconhecido. As programações vindas por gerações a fio buscam a conquista de segurança, sobrevivência, e o novo não é seguro. Talvez na história pessoal, seus pais tenham passado por dificuldades, nos relacionamento, financeiramente, e o desejo deles é que você não passe por isso e, essa informação registrada em você pode estar ativando um alerta de perigo. O fato é que o medo não vai passar enquanto não começar a andar.

Por isso, é necessário recorrer a caveira e ouvi-la para saber se esse medo é um sinal de alerta real para não seguir ou faz parte de uma programação. Não queremos ser guiadas pelas histórias dos outros, mas construir a nossa própria e esse é um dos grandes desafios que todos enfrentamos, deixar morrer aquilo que não cabe mais e que, muitas vezes, está dentro de nós. E isso envolve coragem, determinação, saber que vai ser olhada de maneira estranha, porque agora está diferente e as pessoas estranham os diferentes. Mas, ao mesmo tempo, nasce uma espontaneidade segura, um estado de autenticidade profunda.

Quando começar a brilhar e o medo bater a porta, saiba que ele faz parte do caminho do desconhecido, necessário, afinal, aquilo que virá a ser novo, antes foi desconhecido.

Quando sentir a insegurança confundir suas ideias e travar suas pernas, lembre-se que a segurança real é aquela que vem de dentro, da intuição, a segurança que vem de fora é ilusória.

Quando se sentir fraca e a vara da caveira pesar, vá ao encontro de uma amiga que vai te ajudar a carregar esse fardo, lá você poderá descansar e sair revigorada para o novo dia.

 

 

 

Bia Rossi

Pesquisadora, terapeura Bodytalk

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